♪♬ AI EU ENTREI NA RODA… ♪♬

roda

A primeira vez em que isso aconteceu, eu tinha apenas 7 anos.

Meu primeiro ano na escola pública. Ensino de primeira (e não estou sendo irônica), professores amorosos e competentes, alunos de todas as classes sociais numa mesma sala de aula.

Tudo certo, nenhum problema, a não ser pela hora do recreio: por causa da minha limitação física, eu não conseguia brincar de roda! Eu adorava ver meus coleguinhas rodopiando no pátio da escola, “atirando pau no gato” e “vendo o circo pegar fogo”…  Eu chegava perto, queria brincar também, mas quando eu entrava na roda, a roda não andava, não tinha graça, ela não saía do lugar.

Então ficava sempre à distância, pra não atrapalhar, era lindo ver a roda girar, mesmo eu não estando nela.

Só que minha professora me observava. Acredito até que ela passou alguns dias pensando numa solução. Então, num certo dia, na hora do recreio, ela me chamou pra perto da roda. E eu disse, conformada:

– Não, tia, não dá.

– Dá, sim. Venha cá, querida.

Meus coleguinhas ficaram confusos, mas atentos à intervenção da professora.

E ela falou:

– O centro da roda é o melhor lugar, é o lugar mais seguro. A partir de hoje, vocês brincam com a Lídia e a deixam no centro da roda.

– Ôooba!!! – Foi a resposta coletiva.

Foi indescritível a emoção que senti. Pela primeira vez a “sensação de pertencimento” me invadiu. Eu só queria fazer parte da roda, mas agora a minha professora havia me colocado no melhor lugar, com a cumplicidade e o consentimento dos meus amiguinhos. Seria desnecessário dizer que o tal centro da roda passou a ser disputado por quase todos da escola!

Esse episódio estava esquecido num canto qualquer da minha memória, e iria ficar por lá se não fosse por hoje, quando vi outra roda: uma roda de poetas, cantando e dançando entre fotos e poesias.

Eu fiquei algum tempo olhando de longe, só morrendo de vontade.

Por um momento, pensei que eu deveria ficar exatamente onde eu estava, para que a roda não parasse. Mas estava tudo tão lindo, tão mágico, tão contagiante, que eu cheguei mais perto só para fotografar.

E de repente, como se eu tivesse entrado numa máquina do tempo, eu me vi sendo afagada, cercada, engolida gentilmente pela roda!

Ninguém combinou nada. A roda começou até pequena, mas foi crescendo, crescendo… E eu, lá no meio, deslumbrada, criança outra vez, tonta de tanta emoção, fazendo parte da roda, rindo com vontade de chorar, sentindo aquela sensação inigualável e inefável de inclusão, de pertencimento.

A poesia, quase 40 anos depois, relembrou que a vida é uma roda-viva que não para e, o que é melhor: ainda me cabe!

Lídia Vasconcelos, 06.10.2015

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Sobre Lídia Vasconcelos

Professora de Língua Portuguesa, poeta e escritora de sonhos. Amo gatos.
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